Grande evento promove a Integridade da Informação após o G20 no Rio

A 1^a Conferência Internacional de Integridade da Informação, em conjunto com o 5^o Encontro do ICIE e o 1^o Encontro da RNCD, levou ao Rio de Janeiro, em 21 e 22 de novembro, grandes líderes internacionais, atuantes na luta contra a desinformação. Um evento histórico, que marca o esforço conjunto de instituições, governo e organizações da sociedade civil em favor da Integridade Informacional e da ética  da informação.

O evento representa uma importante aliança entre instituições que vêm se destacando na luta contra a desinformação, dentre elas o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o ICIE e a RNCD. Não por acaso, a ação conjunta em prol da integridade da informação acontece em um ano em que 60 países tiveram eleições marcadas pelo avanço da desinformação, em muitos casos envolvendo inteligência artificial. Pode-se destacar locais como a Índia, onde até mortos foram ressuscitados para angariar votos em vídeos feitos com deepfakes, mas também houve muita desinformação nos pleitos do México, Estados Unidos, Brasil e na União Europeia.

Para Ana Regina Rêgo, criadora e coordenadora da RNCD nos últimos quatro anos, a união do IBICT, uma agência do Estado brasileiro, às outras duas entidades demonstra o quanto o Instituto tem articulações importantes, não só da perspectiva acadêmica, mas também enquanto rede de pessoas que pensam o contexto atual e estão na sociedade civil, atuando diretamente para combater as diversas dimensões do fenômeno da desinformação. A pesquisadora, que no momento está em estágio doutoral em Sevilha, na Espanha, participou ativamente do evento, desde articulação, organização e com falas online.

A Conferência, que aconteceu logo após o G20, levou às instalações do IBICT-Rio pesquisadores e ativistas de diferentes países, como Espanha, México, Uruguai, França e China, e também de vários estados do Brasil, como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Ceará. O público, que lotou por dois dias o auditório do Centro Brasileiro de pesquisas Físicas, o CBPF, participou dos debates com especialistas em temas fundamentais para o mundo atual, como os modelos de negócio das plataformas digitais, as questões éticas do uso da inteligência artificial, a integridade da informação e as práticas de desinformação nas redes digitais, assuntos que estão na ordem do dia.

Logo na abertura, as falas da então coordenadora da RNCD, Ana Regina Rêgo (online), do coordenador do PPGCI Ibict/UFRJ, Fábio Gouvêa, do então presidente do ICIE, Marco Schneider, e da analista em Gestão, Planejamento e Infraestrutura em Ciência e Tecnologia do Ibict, Andreia Michele, destacaram a importância do evento no atual momento e a união institucional em prol da Integridade da Informação.

Na primeira mesa do dia 21, para pensar a relação entre Ética e Integridade da Informação, estiveram Ariel Antônio Morán Reyes, da Universidade Autônoma do México (UNAM) e Juan Carlos Suárez, da Universidade de Sevilla, na Espanha. Ambos participaram do debate instigante, junto a Carlos Alberto Ávila Araújo do PPGCI/UFMG e Marco Schneider do Ibict, UFF e ICIE. A mediação foi de Maximiliano Rodríguez-Fleitas, da UdelaR – Uruguai.

Após o almoço aconteceu a segunda mesa, sob o tema “regulação para um ambiente digital saudável”. Nela estiveram palestrando e debatendo Samara Mariana de Castro, da Secretaria de Políticas Digitais da SECOM, Marcos Dantas, professor da Escola de Comunicação da UFRJ e do PPGCI Ibict/UFRJ e membro do Conselho de Administração do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.Br). Giulia Tucci e Josir Cardoso Gomes, ambos do Ibict, apresentaram o Projeto Baobá, uma das frentes de atuação fomentada pelo Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD), cujo objetivo é acompanhar o debate público digital para a promoção da integridade informacional. A mediação esteve a cargo do professor Marco Schneider.

Para Schneider, o evento acertou na coerência das mesas, tanto entre os participantes de cada uma quanto na sequência das mesas entre si, o que manteve o debate orgânico e o público engajado. Outras grandes vantagens da Conferência foram o fortalecimento da rede já existente e a sua expansão, a partir das novas conexões feitas durante os dois dias. Para o pesquisador, essa é uma das grandes razões desses encontros, porque, para além do conteúdo específico das falas, as trocas de ideias que acontecem nos intervalos são extremamente ricas e quando pessoas atuantes mundialmente se conhecem, sempre surgem proposições interessantes.

A terceira mesa contou com a esperada presença do Deputado Estadual do Rio de Janeiro Carlos Minc, para discutir de maneira combativa estratégias contra a desinformação ambiental. Junto com ele estiveram Philippe Léna, diretor emérito de pesquisa do IRD – França (online), Liz Rejane Issberner, do PPGCI – Ibict/UFRJ, e Rafael de Pino da FALA Produtora, com a mediação de Julia Dias, do NetLab/UFRJ.

O primeiro dia se encerrou com o lançamento dos livros “Desinformação e Contemporaneidade: Democracia, Ciência e Vida Social”, de Carlos Alberto Ávila Araújo junto a outros autores da UFMG, e “Miséria da Informação: dilemas éticos da era digital”, de Arthur Bezerra, do Ibict e ICIE.

O segundo dia foi marcado por duas conferências, a primeira de José Medeiros, professor da Universidade de Estudos internacionais de Zhejiang – China, que falou sobre Soberania Digital e sua relação com a Integridade Informacional. O pesquisador, que nos últimos anos tem focado suas pesquisas nas relações Brasil-China, falou sobre como o país vem se mantendo soberano digitalmente graças à manutenção de um projeto nacional. Também com Medeiros vem avançando a articulação de um convênio entre a universidade chinesa e o Ibict, envolvendo a tradução mútua de publicações e possibilidades de intercâmbio, com a ida e vinda de pesquisadores, estudantes e equipes de trabalho entre Brasil e China. A mediação da conferência de Medeiros foi de Fábio Guedes Gomes, da FAPEAL e UFAL.

Após a fala de José Medeiros houve o lançamento da Liinc em Revista com chamada para a próxima edição sobre INTEGRIDADE DA INFORMAÇÃO E SOBERANIA – BRASIL E CHINA. O lançamento contou com Sergio Amadeu, da UFABC e Marco Schneider.

O dia 22 teve também três mesas de debate. A primeira, ainda pela manhã, contou com Rodrigo Moreno Marques, do PPGCI/ UFMG, Sérgio Amadeu da Silveira, da UFABC e Helena Martins, da UFC e Revista EPTIC, para discutir como os modelos de negócios das plataformas impactam o debate público e podem promover a desinformação. A mediação foi de Arthur Coelho Bezerra.

A segunda conferência do dia aconteceu no início da tarde, com o Analista da Fiocruz na área de gestão da inovação e desenvolvimento tecnológico, Marcus Vinicius Giraldes falando sobre o combate à desinformação por meio do Fundo de Direitos Difusos, com a mediação de Bianca Lopes, do PPGCI – Ibict/UFRJ.

A segunda mesa do dia 22  aproximou o público da questão das Inteligências Artificiais. Para debater sobre IA, desinformação e eleições participaram Bruna Martins dos Santos, da Global Coalition for Tech Justice [online], Rodrigo Lobo Canalli, da UniCEUB, ex-chefe da Assessoria de Inteligência Artificial do Supremo Tribunal Federal, e Nina Santos (online), do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD). Também estiveram presentes San Romanelli, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ e a mediadora Nina da Hora, do Instituto da Hora.

A última mesa do evento discutiu formas de enfrentamento à desinformação científica, com as presenças de José Edgard Rebouças, do Ministério da Saúde – MS, Sarita Albagli, do Instituto Nacional de Ciência Cidadã (INCC), ligado ao Ibict, e Maria Ataíde Malcher, do PPGECM/ UFPA e Fiocruz. A mediação foi de Claudia Galhardi, do Instituto de Estudos de Saúde Coletiva (IESC-UFRJ).

Ao final da Conferência aconteceu também o encerramento do 1º Encontro da Rede Nacional de Combate à Desinformação e do 5º Encontro do International Center for Information Ethics, com a posse de ambas as novas diretorias. A cerimônia da RNCD contou com a participação de representantes da rede, que falaram um pouco sobre os debates e ações desenvolvidas nesses quatro anos, desde que a rede foi fundada, em 2020. A coordenação passou da professora Ana Regina Rêgo para o professor Marco Schneider, que na sequência apresentou a primeira proposta de gestão, com algumas coordenações setoriais a serem definidas e bastante trabalho para os próximos anos.

O encerramento do Encontro do ICIE contou com a participação online do fundador do Centro, o filósofo Rafael Capurro, direto da Alemanha, que acompanhou a cerimônia em que Arthur Coelho Bezerra assumiu a presidência, no lugar de Marco Schneider, e Maximiliano Rodríguez-Fleitas assumiu a vice-presidência. Segundo Bezerra, a nova administração toma posse no ano em que o ICIE completa 25 anos e é significativo que haja novamente um pesquisador do Uruguai na vice presidência, oriundo também de Montevidéu, cidade de origem de Rafael Capurro. Com isso, o novo presidente também acredita no estreitamento dos laços entre as Instituições brasileiras e a Universidade da República (Udelar), no Uruguai, da qual o vice-presidente faz parte.

Para Maximiliano, assumir este novo papel com abertura e espírito de colaboração, não só fortalece compromisso com o desenvolvimento da ética da informação no Uruguai, mas também permitirá estabelecer laços profundos e significativos com iniciativas internacionais. O pesquisador antecipa que haverá benefícios tangíveis para a comunidade acadêmica e profissional, com a promoção da reflexão crítica sobre problemas comuns e particularidades de cada contexto.

A nova presidência também adianta que, em maio de 2025, acontecerão no Uruguai dois eventos que contarão com pesquisadores da rede do ICIE: o II Simpósio Uruguaio de Ética na Informação e Comunicação, e o II Seminário de Inteligência Artificial na Informação e Comunicação.

O encerramento da 1ª Conferência Internacional de Integridade da Informação contou ainda com o lançamento do novo site do ICIE, fruto da parceria do Centro com o Ibict, que entra agora em seu terceiro ano e promete muitas outras iniciativas em comum para os próximos.

Para Marco Schneider, agora coordenador da RNCD, o saldo do evento não poderia ser mais positivo. As instituições se aproximaram e a rede de pesquisadores voltados para e ética e integridade da informação expandiu-se mundo afora. Organizações como a The Conversation Brasil, Fundações de Amparo à Pesquisa e universidades do exterior, que tiveram representantes no evento, estão em conversações avançadas para novas iniciativas conjuntas. Do amadurecimento da rede e das novas alianças virão muitos frutos, acredita.

A conferência foi gravada e em breve estará disponível no canal do ICIE no YouTube.

Comunicação ICIE
Fotos: Erick Schons – Mídias Pura @erickschons @midiaspura